"Ser músico sempre foi um sonho, ainda que meio retraído por achar sempre que devia ter começado antes, que era tarde. Sou um perfeccionista, não gosto de fazer coisas mal feitas, logo às vezes prefiro não fazer do que fazer mal. Sempre achei que para ser músico, quando realmente percebi que gostaria de o ser, já tinha passado o meu tempo.

Os músicos começam cedo. Se bem que, provavelmente, esta ideia é redutora. Ainda recentemente assisti a uma peça de teatro escrita por um homem que foi camionista até aos 40 anos e que só começou a escrever nessa idade revelando um talento extraordinário. Na música há a questão da técnica, de dominar o instrumento. De nada me serve ter uma grande criatividade musical se não a conseguir passar para a prática. É o chamado «Não tenho dedo!» Um bailarino também não pode começar a dançar aos 40 anos, mas um actor, por exemplo, pode começar a representar com essa idade. Agora, um músico sem um boa formação musical e sem grande técnica nunca será um grande executante. Poderá talvez vir a ser um grande compositor se existir lá dentro uma grande genialidade que supere a falta de conhecimentos. Por isto, já me convenci de que só posso ser o género de músico de tempos livres, meio autodidacta, que toca por brincadeira e com um enorme respeito por quem o faz profissionalmente."

António Feio